quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

E-MAIL SOBRE A CABANA

w, amado,

Pode um p.s. no começo? vá lá: mack não era santo, mas era bom na essência, assim como vc.

nós já conversamos uma vez sobre este livro. a tal cabana. ele é comum, bobo (no bom sentido pra mim) e por isso muitos críticos literários não dão valor, mas o que importa a crítica se desde que foi lançado o público não para de comprar e ler? creio que a crítica é o povo. ele é quem dá a importância ao livro. o livro só é bom se penetra na alma do leitor de alguma forma. por isso todo livro é bom porque somos diversos e ninguém é obrigado a gostar. aliás, o escritor daniel pennac fala dos direitos do leitor: o direito de ler, de não ler, de gostar, de não gostar, de começar a ler pelo fim, pelo meio, saltar páginas, etc e até o direito de não ler. acho isso de uma democracia incrível! no entanto, se for preciso dizer por que gostou ou não, há que se ter uma justificativa. no seu caso não precisa justificar nada porque não está na academia, não vai defender tese e nem é do seu interesse fazer com que alguém leia algo somente porque vc gostou.

quando eu dava aula numa faculdade de comunicação, lá pelos anos 2000, meus alunos falavam sobre o filme matrix. metade amava loucamente. metade odiava loucamente. aquilo me intrigou, inclusive colegas meus de trabalho e amigos também se comportavam do mesmo jeito que os alunos. em geral diziam que não se podia entender nada sobre o filme porque nunca se sabia onde estava o real e o imaginário. outros diziam que a beleza estava justamente nessa virtualidade-dualidade confusa, etc, etc, etc. fui assistir ao filme. ponto. saí do cinema apaixonada com os símbolos que eram as pistas ou pontes que ligavam realidade e a ficção. A travessia era mais ou menos fácil. descobri que mesmo os alunos que se apaixonaram por matrix, muitos não tinham lido alice no país das maravilhas (e do espelho) e nunca tinha sabido dos famosos diálogos entre alice e o gato risonho. muitos só sabiam do mágico de oz por causa dos desenhos animados da tv. outros sabiam do gênesis da bíblia por ouvir os dirigentes espirituais falarem. haviam decorado sem compreender nada (os horizontes de expectativa eram curtos). o mito da caverna? o que é isso? claro que quem fez o filme leu essas coisas citadas e muito mais. outros alunos haviam lido e não conseguiram juntar os elos. fazer as associações. outros não viram nada além do que homens lutando no ar... houve gente que só gostou por causa disso. tudo vale pra mim.

mas, pra esta criatura que lhe escreve muito e muitas linhas - rsrsrs - só pra falar uma bobagem, o filme bom mesmo foi blade runner o caçador de andróides. vc viu? isso é outro caso. 



(parênteses)... conheço intelectuais que não leriam a cabana porque só acham bom ler os filósofos em alemão – de preferência. literatura "menor", dizem. se é q existe isso.voltando pra cabana... mack é um sujeito rabugento, cheio de tristezas guardadas, raivas se movendo dentro do próprio pântano interior e que lhe consomem a alma o impedindo de ser alegre e fazer as pessoas alegres. é um sujeito digno, reto, justo, extremamente amoroso como pai, leal como amigo, responsável, decente... tudo de bom (pra quem não vive com ele kkkkkkkk). mack é conformado com a sua desgraça pessoal e não verbaliza isso... é “rúim” abrir a alma pros outros!!!

bom, então uma situação grave faz com que mack retorne à cabana, lugar da sua dor. a maior dor que uma pessoa pode ter. e lá acontece o inusitado encontro com papai, sarayu e outro companheiro, que também consegue ser os dois primeiros rsrsrsr. loucura total! um p.s. antes do fim: o livro não é necessariamente religioso e talvez nem tenha sido essa a intenção do autor (a intenção de quem escreve é o que menos importa em alguns casos.  vc que escreve sabe disso). no entanto há algo de espiritual, numa visão de deus pouco explorada ou pensada. mas há um conteúdo aparentemente (em literatura quase tudo é aparentemente) religioso-espiritual-universal-filosófico-psicológico-existencial... que é impossível a gente não se identificar em algum momento com o personagem. mack termina sendo uma espécie do nosso alter-ego, uma projeção nossa em forma de papel e letra... e tudo passa a ser real.

amadinho, acho linda essa nossa relação (o filme "nunca te vi sempre te amei).
 
a partir da página 70 do livro vc entrará num outro tempo e outro espaço. o lugar do inverossímel, mas muitíssimo atraente. o lugar do espelho, do não-lugar (ACABEI DE TER UMA IDEIA - daqui apouco te falo). então muita coisa acontece tanto lá quanto cá e a gente vira personagem. todos somos mack com as nossas dúvidas, conflitos, medos, raivas, dívidas(?) expectativas... ficamos desnudos tentando encobrir as vergonhas kkk mas não há como encobri-las, não há como se esconder mais. as máscaras que lutamos em manter, caem... viramos universais, visíveis e unos. É inevitável! já devo concluir? ta cansado de ler esse argumento pra fazer vc entrar na cabana? agüenta? como não ouvi sua resposta, vou continuar só mais um tiquinho. então amado, pelo que conheço do poeta mais doce da net, vc tem medo de entrar na cabana por isso que parou exatamente naquele lugar. ou então vc é o tipo de pessoa que não come o gostoso pra ficar só olhando. mas o olho também gasta e olhar pode ser uma forma de comer. rsrsrs. olhe, w, se eu fosse vc, leria o livro só pra derrubar meus argumentos. só pra dizer na minha cara que não gostou. aí eu ficarei satisfeita e lhe deixaria quieto. .
 
bom, veja a ideia que tive acima: o blog não é uma espécie de diário? então vamos inventar um diário a dois. será que já inventaram isso? ando louca pra ser original em alguma coisa. trocaremos ideias literárias “abobrínicas” – ou ablogbrínicas? - dentro de um blog, em forma de cartas assim como fazemos há tantos anos. nos escreveremos e se não tivermos platéia, a gente mesmo se lê e fica tudo bom do mesmo jeito.
quem sabe alguma escola não nos aproveita pra ajudar a despertar nos estudantes o gosto pra ler e escrever? nesse blog a gente pode dizer do que gostou, do que não, comentar uma imagem, um poema, trivialidades... um negócio descompromissado, sem regularidade de publicação. gosto dos blogs organizados, com publicações semanais, mensais... mas não consigo ser disciplinada a esse ponto. gosto de ser um tanto livre. Mas comprometida, razoavelmente, com o idioma. nada também de neuras gramaticais 
topas?
pensemos?

beijocas. (dessa vez eu ultrapassei os limites de tanto escrever. tadinho de vc, amado!)


****
n.

Amada,

então...
gosto quando falas, falas, e vais virando fadas, desvirando fadas, e logo estamos em um mundo encantado.
tuas palavras têm um jeito que me cativa...
me imagino diante de uma naja, enquanto as leio, vão me cativando, cativando, e lá estou eu de novo pequeno príncipe diante da sabedoria raposina.

o tal mack é mesmo isso tudo que falaste, um cara fascinante?
mas estou longe de me parecer com ele. juro.
já te disse uma vez, e te direi quantas vezes necessárias forem:
- Não sabes a quantidade de pecados que sou capaz de cometer por metro quadrado.

gostei da idéia do blog.
vou de novo e prepotentemente dar uma idéia para o nome dele:

COISAS
DOIDAS

vamos lá.
vamos lá.

prometo, logo que puder terminar de ler a Cabana.
prometo.
aliás devo isso a duas pessoas muito especiais.

prometo ainda que verei o filme.

venha sempre.
e venha carregada de palavras.

se cuida.
bjos.w

p.s. gosto de iniciar as frases, quando não sou obrigado a obedecer regras gramaticais, com letras minúsculas.
identifico-me  mais com elas do que com as maiúsculas.



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