amada,
fiquei todos esses dias pensando em tudo o que você escreveu.
e pensei, pensei, pensei...
e assim fiquei com a certeza absoluta de que todos nós somos uma espécie de Nina, de bailarinos que sonham um dia dançar o Cisne Negro.
se você soubesse, minha amiga, quantas vezes eu me mutilei e me mutilo nessa minha vida medíocre, na tentiva de ser um homem bom.
consigo?
consigo nada.
tudo é em vão. tudo!
sempre sou humilhado por uma coisinha que deixei de fazer, ou fiz mal, ou não devia ter feito, ou sei lá o quê.
sei que jamais conseguirei dançar o tal cisne, negro ou dourado ou ilimuminado ou morto ou vivo ou magro ou gordo ou bardo (bardo então nem pensar)...
estou desistindo de bailar e me farei silencioso como o lago sem o cisne, e negro como a noite sem a bailarina.
a vida não é fácil.
cada vez chego com mais convencimento à essa conclusão.
cada vez mais a morte me encanta.
parece ser mesmo, o que tão bem definiu Martin Luther King, o denominador comum de todos nós.
a poesia que me pediste.
sou a bailarina da noite escura
dançando no espelho liso de um lago
onde cisnes negros se entregam à morte
desesperadamente
sou a bailarina frágil
que queria ser doméstica
ou freira
ou feirante
ou médica
ou mestre
ou professora
ou prostituta
no entanto estou aqui
mutilando meus sonhos
rasgando minha pele
porque o cisne negro insiste em não morrer
um imenso abraço.w